dia 48. post 1
«E com este labor e este pranto dos pobres, meu Príncipe, se edifica a abundância da Cidade! Ei-la agora coberta de moradas em que eles não se abrigam; armazenada de estofos em que eles não se agasalham, abarrotada de alimentos, com que eles não se saciam! Para eles só a neve, quando a neve cai, e entorpece e sepulta as criancinhas aninhadas pelos bancos das praças ou sob os arcos das pontes de Paris... A neve cai, muda e branca na treva: as criancinhas gelam nos seus trapos: e a polícia, em torno, ronda atenta para que não seja perturbado o tépido sono daqueles que amam a neve, para patinar nos lagos do Bosque de Bolonha com peliças de três mil francos. Para quê, meu Jacinto?
(...)
Há mãos regeladas que se estendem, e beiços sumidos que agradecem o dom magnânimo de um sou - para que os Efrains tenham dez milhões no Banco de França, se aqueçam à chama rica da lenha aromática, e surtam de colares de safiras as suas concubinas, netas dos duques de Atenas. E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos - para que os Jacinto, debiquem, bocejando, sobre pratos de Saxe, morangos gelados em champanhe e avivados de um fio de éter!»
[A cidade e as serras, 1901 - Eça de Queiroz]
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Há mãos regeladas que se estendem, e beiços sumidos que agradecem o dom magnânimo de um sou - para que os Efrains tenham dez milhões no Banco de França, se aqueçam à chama rica da lenha aromática, e surtam de colares de safiras as suas concubinas, netas dos duques de Atenas. E um povo chora de fome, e da fome dos seus pequeninos - para que os Jacinto, debiquem, bocejando, sobre pratos de Saxe, morangos gelados em champanhe e avivados de um fio de éter!»
[A cidade e as serras, 1901 - Eça de Queiroz]